PENSAMENTO

A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” (C. S. Lewis)

12/12/2007

EXPLORANDO O UNIVERSO PARALELO

Explorando o universo paralelo

Philip Yancey

Há quase dez anos participo, na Universidade de Chicago, de um grupo que lê principalmente os romances de autores como Philip Roth, Saul Bellow e J. M. Coetzee, que tinham relação com a escola. O grupo era integrado por um professor marxista de filosofia, de um especialista em desenvolvimento infantil, de um pesquisador no campo da farmacologia e de um advogado.Eu me encanto ao ver como um mesmo livro provoca respostas radicalmente diferentes. Depois de navegar num mar de idéias, quase sempre as conversas desembocam em temas políticos. O grupo me vê como uma janela para um universo paralelo. – Você é evangélico, não é? – Eu respondo que sim.– Você poderia nos explicar por que eles não concordam com o casamento dos homossexuais? Eu me esforço, mas os argumentos dos líderes evangélicos que eu menciono não lhes faz sentido. Depois das eleições de 2004, o professor marxista saiu-se com uma tirada contra os “evangélicos de direita”:– Eles são motivados pelo ódio, ódio profundo. Eu sugeri o medo como uma possível alternativa, medo de mudanças numa sociedade que vai se movendo para uma direção problemática. No entanto, ele insistiu, levantando sua voz e ruborizando a face:– É ódio.Então, eu lhe perguntei:– Você conhece pessoalmente algum evangélico de direita?Ele admitiu que não, embora tenha dito que conheceu vários deles em sua juventude. Tenho aprendido com esse grupo como a religião pode soar ameaçadora, especialmente para aqueles que se vêem a si mesmos como agnósticos num país de crentes. Eles tendem a ver os evangélicos como guardiões da moral, determinados a impor suas idéias de comportamento a pessoas que não compartilham de suas crenças.Visitando outra cidade há alguns meses, encontrei-me com três homens gays que se consideram cristãos, freqüentam regularmente uma igreja e levam a sério sua fé. Eles vêem a cena política com as mesmas lentes do meu grupo de leitura, embora com um senso maior de preocupação. Um deles disse:– Nós nos sentimos na mesma situação dos judeus no tempo de Hitler. Estamos tentando perceber se estamos em 1933 ou 1939. Será que teremos de nos mudar para o Canadá? Está claro que o nosso país não nos quer. Acho que a maioria dos evangélicos gostaria de nos ver exterminados.Para sua incredulidade, eu respondi:– Como você pode pensar uma coisa dessa! Os homossexuais têm os mesmos direitos que outros neste país. Não conheço um só cristão que queira ver vocês exterminados.Os três citaram esforços legislativos em vários estados para suprimir direitos já garantidos aos homossexuais e me referiram várias páginas de retórica inflamada contra os homossexuais, vindas de ativistas evangélicos.Saí da discussão com minha cabeça fervendo, tal como ocorre no meu grupo de leitura na universidade. Como podem pessoas habitantes de uma mesma sociedade terem percepções tão diferentes? E o que nós, evangélicos, fizemos para que as Boas Novas soem como tão ameaçadoras?Apenas uma pessoa do grupo de leitura manifestou interesse por questões de fé. Uma noite Josh me falou sobre sua irmã, agora uma evangélica conservadora. Ela fora viciada em drogas, incapaz de se manter num emprego ou continuar casada. Disse-me Josh:– Um dia ela encontrou Jesus. Não há outra explicação. Ela mudou da noite para o dia.Josh me pediu uma indicação de um livro de C. S. Lewis ou outro autor que explicasse a fé de uma forma que pudesse entender. Ele acrescentou:– Minha irmã me envia livros cristãos, mas eles não são nada convincentes. Eles parecem escritos para pessoas que já crêem.Prontamente concordei. Acho que pode ser bastante tentador dedicar muitos esforços para reabilitar a sociedade, especialmente quando estes esforços demonizam a oposição. (Aliás, nem Jesus, nem Paulo demonstraram grande interesse em purificar o degenerado Império Romano. Como a História tem demonstrado, especialmente em tempos quando Igreja e Estado estão tão próximos, é possível para a Igreja ganhar a nação e, no processo, perder o Reino.) (Tradução de Israel Belo de Azevedo)

Philip Yancey é jornalista, teólogo e escritor de vários livros.

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