Explorando o universo paralelo
Philip Yancey
Há quase dez anos participo, na Universidade de Chicago, de um grupo que lê principalmente os romances de autores como Philip Roth, Saul Bellow e J. M. Coetzee, que tinham relação com a escola. O grupo era integrado por um professor marxista de filosofia, de um especialista em desenvolvimento infantil, de um pesquisador no campo da farmacologia e de um advogado.Eu me encanto ao ver como um mesmo livro provoca respostas radicalmente diferentes. Depois de navegar num mar de idéias, quase sempre as conversas desembocam em temas políticos. O grupo me vê como uma janela para um universo paralelo. – Você é evangélico, não é? – Eu respondo que sim.– Você poderia nos explicar por que eles não concordam com o casamento dos homossexuais? Eu me esforço, mas os argumentos dos líderes evangélicos que eu menciono não lhes faz sentido. Depois das eleições de 2004, o professor marxista saiu-se com uma tirada contra os “evangélicos de direita”:– Eles são motivados pelo ódio, ódio profundo. Eu sugeri o medo como uma possível alternativa, medo de mudanças numa sociedade que vai se movendo para uma direção problemática. No entanto, ele insistiu, levantando sua voz e ruborizando a face:– É ódio.Então, eu lhe perguntei:– Você conhece pessoalmente algum evangélico de direita?Ele admitiu que não, embora tenha dito que conheceu vários deles em sua juventude. Tenho aprendido com esse grupo como a religião pode soar ameaçadora, especialmente para aqueles que se vêem a si mesmos como agnósticos num país de crentes. Eles tendem a ver os evangélicos como guardiões da moral, determinados a impor suas idéias de comportamento a pessoas que não compartilham de suas crenças.Visitando outra cidade há alguns meses, encontrei-me com três homens gays que se consideram cristãos, freqüentam regularmente uma igreja e levam a sério sua fé. Eles vêem a cena política com as mesmas lentes do meu grupo de leitura, embora com um senso maior de preocupação. Um deles disse:– Nós nos sentimos na mesma situação dos judeus no tempo de Hitler. Estamos tentando perceber se estamos em 1933 ou 1939. Será que teremos de nos mudar para o Canadá? Está claro que o nosso país não nos quer. Acho que a maioria dos evangélicos gostaria de nos ver exterminados.Para sua incredulidade, eu respondi:– Como você pode pensar uma coisa dessa! Os homossexuais têm os mesmos direitos que outros neste país. Não conheço um só cristão que queira ver vocês exterminados.Os três citaram esforços legislativos em vários estados para suprimir direitos já garantidos aos homossexuais e me referiram várias páginas de retórica inflamada contra os homossexuais, vindas de ativistas evangélicos.Saí da discussão com minha cabeça fervendo, tal como ocorre no meu grupo de leitura na universidade. Como podem pessoas habitantes de uma mesma sociedade terem percepções tão diferentes? E o que nós, evangélicos, fizemos para que as Boas Novas soem como tão ameaçadoras?Apenas uma pessoa do grupo de leitura manifestou interesse por questões de fé. Uma noite Josh me falou sobre sua irmã, agora uma evangélica conservadora. Ela fora viciada em drogas, incapaz de se manter num emprego ou continuar casada. Disse-me Josh:– Um dia ela encontrou Jesus. Não há outra explicação. Ela mudou da noite para o dia.Josh me pediu uma indicação de um livro de C. S. Lewis ou outro autor que explicasse a fé de uma forma que pudesse entender. Ele acrescentou:– Minha irmã me envia livros cristãos, mas eles não são nada convincentes. Eles parecem escritos para pessoas que já crêem.Prontamente concordei. Acho que pode ser bastante tentador dedicar muitos esforços para reabilitar a sociedade, especialmente quando estes esforços demonizam a oposição. (Aliás, nem Jesus, nem Paulo demonstraram grande interesse em purificar o degenerado Império Romano. Como a História tem demonstrado, especialmente em tempos quando Igreja e Estado estão tão próximos, é possível para a Igreja ganhar a nação e, no processo, perder o Reino.) (Tradução de Israel Belo de Azevedo)
Philip Yancey é jornalista, teólogo e escritor de vários livros.
PENSAMENTO
A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” (C. S. Lewis)
Páginas
12/12/2007
10/12/2007
Sobre a lei da atração
Sobre a lei da atração
Luiz Sayão
Está na moda! Todo o mundo fala sobre o assunto dia e noite. A grande novidade do momento é O Segredo e a famosa “lei da atração”. A “novidade” teve início devido à publicação do livro The Secret, escrito pela australiana Rhonda Byrne. O sucesso da obra tornou-se mais expressivo depois do filme que a popularizou ainda mais.
O grande segredo revelado na obra de Byrne é que a realidade é determinada pelo pensamento. De acordo com a autora, vivemos num universo energético, cheio de vibrações. Procurando apoiar-se em conceitos de física quântica, ainda que sem base, a teoria de Byrne sugere que os pensamentos humanos são capazes de criar uma espécie de campo energético que possibilita uma capacidade de atrair pessoas e situações específicas. Isso significa que as circunstâncias boas ou adversas que temos de enfrentar não acontecem por acaso nem por providência divina. De acordo com a sugestão de O Segredo, nós é que atraímos tudo o que acontece à nossa volta. Em resumo, quando você começa a pensar positivamente, coisas boas vão acontecer em sua vida; mas se começa a ter medo, depressão e pensamento negativo, você estará chamando problemas e desgraças.
De acordo com a teoria, por exemplo, os culpados do acidente com o avião da TAM teriam sido os próprios passageiros. Pelo seu negativismo, eles atraíram a tragédia. Assim devemos explicar o tsunami na Indonésia, o terremoto no Peru, mais recentemente, e todas as desgraças que afligem a humanidade. É desnecessário argumentar contra uma sugestão tão absurda. Todos nós já experimentamos situações nas quais ficamos assustados e cheios de receio e, em seguida, fomos tranqüilizados por uma notícia boa. E quantas vezes estamos eufóricos, como todo o Brasil ficou na copa de 1950, e acabamos sendo surpreendidos por uma notícia triste e devastadora – Uruguai campeão.
Diante de tal realidade, cabem duas perguntas:
1) Por que O Segredo faz tanto sucesso?
2) O que diríamos sobre o assunto como cristãos?
A teoria de O Segredo, com sua “lei de atração”, não é novidade. Trata-se de um enfoque estilo “nova era” que tem como pano de fundo a perspectiva panteísta indiana que sugere que a realidade é determinada pelo pensamento. Na verdade, temos aqui uma idéia otimista encontrada em diversas religiões orientais (e.g. seicho-no-iê). Tal perspectiva atinge em cheio um mundo secular negativista e desorientado, tornando-se uma “grande atração”. A verdade é que o secularismo humanista, com seu enfoque crítico e desconstrucionista, está desprovido de esperança. O sonho racionalista e iluminista não aconteceu. Restou uma ressaca desanimadora. Assim, grande parte da população ocidental teológica e filosoficamente órfã está “atirando para todo lado” e “matando cachorro a grito”, procurando algum paradigma que lhe permita viver a vida com algum tipo de esperança e perspectiva futura. O Segredo é uma injeção positiva de ânimo para muita gente.
Justiça seja feita, porém, que nem tudo que O Segredo diz é tolice. A própria Bíblia nos convida a uma atitude positiva e cheia de esperança para com a vida e a eternidade. Além disso, a maior esperança não pode ser vista e deve ser contemplada pela fé (Hb 11.1). A fé é uma espécie de pensamento positivo que antecipa uma realidade extraordinária que ainda não aconteceu. Este raciocínio está presente nas curas do Novo Testamento e recepção da salvação divina (Mc 9.22; Ef 2.8). Além disso, é muito importante ter uma atitude positiva perante a vida, do contrário, não conseguiremos realizar nada. Tal enfoque positivo necessário decorre da idéia de que Deus é bom e cuida do universo, especialmente dos que estão em aliança com Ele. Também não podemos nos esquecer que diante de qualquer empreendimento na vida é preciso começar de um ponto de partida. Não há saída: o primeiro passo é a fé! Você pode escolher onde colocar sua fé e se seu enfoque será positivo ou negativo.
O cristianismo bíblico é otimista, mas não alienante. O enfoque positivo na vida não nos deve levar a chamar o mal de bem e o bem de mal. A Bíblia chama o mal de mal e o pecado de pecado. Basta ler os profetas de Israel para perceber o equilíbrio entre condenação e salvação, entre juízo e esperança, entre repreensão e perdão. Devemos enfrentar nossas crises de frente, com muito realismo, mas sem perder a esperança, pois cremos num Deus bondoso e todo-poderoso.
A maior dificuldade decorrente da fé cega em O Segredo, com sua “lei de atração”, é entrar num processo de alienação enganoso que, passada a euforia, será frustrante e decepcionante. A verdade é que essa “atração” pode tornar-se uma “atração fatal”. Vale a pena gastar mais tempo com a velha e sábia Bíblia Sagrada.
Luiz Sayão
Está na moda! Todo o mundo fala sobre o assunto dia e noite. A grande novidade do momento é O Segredo e a famosa “lei da atração”. A “novidade” teve início devido à publicação do livro The Secret, escrito pela australiana Rhonda Byrne. O sucesso da obra tornou-se mais expressivo depois do filme que a popularizou ainda mais.
O grande segredo revelado na obra de Byrne é que a realidade é determinada pelo pensamento. De acordo com a autora, vivemos num universo energético, cheio de vibrações. Procurando apoiar-se em conceitos de física quântica, ainda que sem base, a teoria de Byrne sugere que os pensamentos humanos são capazes de criar uma espécie de campo energético que possibilita uma capacidade de atrair pessoas e situações específicas. Isso significa que as circunstâncias boas ou adversas que temos de enfrentar não acontecem por acaso nem por providência divina. De acordo com a sugestão de O Segredo, nós é que atraímos tudo o que acontece à nossa volta. Em resumo, quando você começa a pensar positivamente, coisas boas vão acontecer em sua vida; mas se começa a ter medo, depressão e pensamento negativo, você estará chamando problemas e desgraças.
De acordo com a teoria, por exemplo, os culpados do acidente com o avião da TAM teriam sido os próprios passageiros. Pelo seu negativismo, eles atraíram a tragédia. Assim devemos explicar o tsunami na Indonésia, o terremoto no Peru, mais recentemente, e todas as desgraças que afligem a humanidade. É desnecessário argumentar contra uma sugestão tão absurda. Todos nós já experimentamos situações nas quais ficamos assustados e cheios de receio e, em seguida, fomos tranqüilizados por uma notícia boa. E quantas vezes estamos eufóricos, como todo o Brasil ficou na copa de 1950, e acabamos sendo surpreendidos por uma notícia triste e devastadora – Uruguai campeão.
Diante de tal realidade, cabem duas perguntas:
1) Por que O Segredo faz tanto sucesso?
2) O que diríamos sobre o assunto como cristãos?
A teoria de O Segredo, com sua “lei de atração”, não é novidade. Trata-se de um enfoque estilo “nova era” que tem como pano de fundo a perspectiva panteísta indiana que sugere que a realidade é determinada pelo pensamento. Na verdade, temos aqui uma idéia otimista encontrada em diversas religiões orientais (e.g. seicho-no-iê). Tal perspectiva atinge em cheio um mundo secular negativista e desorientado, tornando-se uma “grande atração”. A verdade é que o secularismo humanista, com seu enfoque crítico e desconstrucionista, está desprovido de esperança. O sonho racionalista e iluminista não aconteceu. Restou uma ressaca desanimadora. Assim, grande parte da população ocidental teológica e filosoficamente órfã está “atirando para todo lado” e “matando cachorro a grito”, procurando algum paradigma que lhe permita viver a vida com algum tipo de esperança e perspectiva futura. O Segredo é uma injeção positiva de ânimo para muita gente.
Justiça seja feita, porém, que nem tudo que O Segredo diz é tolice. A própria Bíblia nos convida a uma atitude positiva e cheia de esperança para com a vida e a eternidade. Além disso, a maior esperança não pode ser vista e deve ser contemplada pela fé (Hb 11.1). A fé é uma espécie de pensamento positivo que antecipa uma realidade extraordinária que ainda não aconteceu. Este raciocínio está presente nas curas do Novo Testamento e recepção da salvação divina (Mc 9.22; Ef 2.8). Além disso, é muito importante ter uma atitude positiva perante a vida, do contrário, não conseguiremos realizar nada. Tal enfoque positivo necessário decorre da idéia de que Deus é bom e cuida do universo, especialmente dos que estão em aliança com Ele. Também não podemos nos esquecer que diante de qualquer empreendimento na vida é preciso começar de um ponto de partida. Não há saída: o primeiro passo é a fé! Você pode escolher onde colocar sua fé e se seu enfoque será positivo ou negativo.
O cristianismo bíblico é otimista, mas não alienante. O enfoque positivo na vida não nos deve levar a chamar o mal de bem e o bem de mal. A Bíblia chama o mal de mal e o pecado de pecado. Basta ler os profetas de Israel para perceber o equilíbrio entre condenação e salvação, entre juízo e esperança, entre repreensão e perdão. Devemos enfrentar nossas crises de frente, com muito realismo, mas sem perder a esperança, pois cremos num Deus bondoso e todo-poderoso.
A maior dificuldade decorrente da fé cega em O Segredo, com sua “lei de atração”, é entrar num processo de alienação enganoso que, passada a euforia, será frustrante e decepcionante. A verdade é que essa “atração” pode tornar-se uma “atração fatal”. Vale a pena gastar mais tempo com a velha e sábia Bíblia Sagrada.
09/12/2007
Meditação Cristã
Meditação Cristã
Osmar Ludovico
A meditação cristã é uma das mais marcantes e significativas páginas da história da Igreja. É uma expressão que vem desde a época dos Pais do Deserto. Foi muito utilizada e praticada pela Monástica e sistematizada na Lectio Divina pelo monge cartuxo Guigo II (1173-1180). Hoje é também conhecida como Meditação Cristã ou Leitura Orante das Escrituras.Guigo II utiliza a idéia de uma escada para a prática da Lectio Divina, sugerindo uma subida para um encontro no alto, no monte de Deus, e logo uma descida para um encontro nas profundezas, no fundo do coração.Statio (preparação), Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação), Discretio (discernimento), Collatio (compartilhar) e Actio (ação) são os degraus dessa milenar tradição de ler a Bíblia.Esses passos constituem um movimento integrado em que cada degrau conduz ao outro. Passo a passo, lentamente saboreando cada passo, em direção ao topo, para, em seguida, descer ao vale, voltar ao concreto e ao cotidiano.Assim diz Guido: “A leitura – Lectio – é o estudo atento da Escritura feito com um espírito totalmente orientado para sua compreensão. A meditação – Meditatio – é uma operação da inteligência, que se concentra com a ajuda da razão, na investigação das verdades escondidas. A oração – Oratio – é voltar com fervor o próprio coração para Deus para evitar o mal e chegar ao bem. A contemplação – Contemplatio – é uma elevação da alma que se levanta acima de si mesma para Deus, saboreando as alegrias da eterna doçura”. E completa: “A leitura leva à boca o alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria”.O objetivo não é um estudo bíblico ou uma exegese. É leitura bíblica que nos conduz a uma experiência de encontro com Deus e a uma experiência de oração. Ex 33.11 diz: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala ao seu amigo”.O propósito da Lectio Divina não é, simplesmente, aumentar o nosso conhecimento intelectual, mas nos levar a um encontro vivo com Jesus Cristo. Tal encontro não nos deixa ilesos, mas faz com que nossa pobreza espiritual aflore, nossos pecados venham à tona, bem como nos indica o caminho da transformação de nossas vidas.Sem isso, podemos conhecer as Escrituras só racionalmente, sem que elas penetrem nas dimensões mais profundas do nosso ser para tocar nossa consciência, nosso coração, nossa vontade.Na leitura meditativa, a Palavra não é interpretada, mas recebida. Uma palavra única, exclusiva, que nos ajuda a penetrar no “mistério de Cristo em nós, a esperança da glória” (Cl 1.27). Na Lectio não empregamos a “força de vontade” ou uma disciplina da ordem da razão ou do esforço, mas lemos a Palavra para que ela nos surpreenda, para que ela toque a nossa alma a partir de uma revelação pessoal, dirigida pelo Espírito através de nossa intuição, nossa imaginação, nossos afetos e sentimentos.Para ler a Bíblia de forma reflexiva, precisamos de um tempo de preparação, de corpo relaxado, de alma apaziguada, de espírito pronto e alerta. Começamos com o nosso corpo, suas dores e tensões, procurando relaxar em uma posição confortável. Faremos, então, contato com nossa alma e seus muitos ruídos internos, procurando trazê-la de volta ao seu sossego (Sl 116.7: “Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo”). Oramos ao Senhor, em quietude, com serenidade, aguardando o Senhor (Sl 130.5: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda, espero na sua palavra”). Então lemos a Palavra, sem forçar nada, deixando acontecer, nos entregando a ela, iniciando um diálogo com Deus no profundo de nossa alma. Podemos ter um diário onde escrevemos nossas meditações, resgatando uma linguagem mais poética, mais metafórica, uma linguagem da alma, dos sentimentos, dos afetos. Davi tinha um diário que se tornou o livro dos Salmos, onde contava e cantava sua vida com Deus.A prática da Lectio Divina emerge do silêncio, da solitude e do recolhimento. Conduz a um amadurecimento espiritual e ao autoconhecimento e gera um desejo de maior intimidade com Deus, e de servir ao próximo com santidade e discrição.
Osmar Ludovico
A meditação cristã é uma das mais marcantes e significativas páginas da história da Igreja. É uma expressão que vem desde a época dos Pais do Deserto. Foi muito utilizada e praticada pela Monástica e sistematizada na Lectio Divina pelo monge cartuxo Guigo II (1173-1180). Hoje é também conhecida como Meditação Cristã ou Leitura Orante das Escrituras.Guigo II utiliza a idéia de uma escada para a prática da Lectio Divina, sugerindo uma subida para um encontro no alto, no monte de Deus, e logo uma descida para um encontro nas profundezas, no fundo do coração.Statio (preparação), Lectio (leitura), Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação), Discretio (discernimento), Collatio (compartilhar) e Actio (ação) são os degraus dessa milenar tradição de ler a Bíblia.Esses passos constituem um movimento integrado em que cada degrau conduz ao outro. Passo a passo, lentamente saboreando cada passo, em direção ao topo, para, em seguida, descer ao vale, voltar ao concreto e ao cotidiano.Assim diz Guido: “A leitura – Lectio – é o estudo atento da Escritura feito com um espírito totalmente orientado para sua compreensão. A meditação – Meditatio – é uma operação da inteligência, que se concentra com a ajuda da razão, na investigação das verdades escondidas. A oração – Oratio – é voltar com fervor o próprio coração para Deus para evitar o mal e chegar ao bem. A contemplação – Contemplatio – é uma elevação da alma que se levanta acima de si mesma para Deus, saboreando as alegrias da eterna doçura”. E completa: “A leitura leva à boca o alimento sólido, a meditação corta-o e mastiga-o, a oração saboreia-o, a contemplação é a própria doçura que alegra e recria”.O objetivo não é um estudo bíblico ou uma exegese. É leitura bíblica que nos conduz a uma experiência de encontro com Deus e a uma experiência de oração. Ex 33.11 diz: “Falava o Senhor a Moisés face a face, como qualquer um fala ao seu amigo”.O propósito da Lectio Divina não é, simplesmente, aumentar o nosso conhecimento intelectual, mas nos levar a um encontro vivo com Jesus Cristo. Tal encontro não nos deixa ilesos, mas faz com que nossa pobreza espiritual aflore, nossos pecados venham à tona, bem como nos indica o caminho da transformação de nossas vidas.Sem isso, podemos conhecer as Escrituras só racionalmente, sem que elas penetrem nas dimensões mais profundas do nosso ser para tocar nossa consciência, nosso coração, nossa vontade.Na leitura meditativa, a Palavra não é interpretada, mas recebida. Uma palavra única, exclusiva, que nos ajuda a penetrar no “mistério de Cristo em nós, a esperança da glória” (Cl 1.27). Na Lectio não empregamos a “força de vontade” ou uma disciplina da ordem da razão ou do esforço, mas lemos a Palavra para que ela nos surpreenda, para que ela toque a nossa alma a partir de uma revelação pessoal, dirigida pelo Espírito através de nossa intuição, nossa imaginação, nossos afetos e sentimentos.Para ler a Bíblia de forma reflexiva, precisamos de um tempo de preparação, de corpo relaxado, de alma apaziguada, de espírito pronto e alerta. Começamos com o nosso corpo, suas dores e tensões, procurando relaxar em uma posição confortável. Faremos, então, contato com nossa alma e seus muitos ruídos internos, procurando trazê-la de volta ao seu sossego (Sl 116.7: “Volta, minha alma, ao teu sossego, pois o Senhor tem sido generoso para contigo”). Oramos ao Senhor, em quietude, com serenidade, aguardando o Senhor (Sl 130.5: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda, espero na sua palavra”). Então lemos a Palavra, sem forçar nada, deixando acontecer, nos entregando a ela, iniciando um diálogo com Deus no profundo de nossa alma. Podemos ter um diário onde escrevemos nossas meditações, resgatando uma linguagem mais poética, mais metafórica, uma linguagem da alma, dos sentimentos, dos afetos. Davi tinha um diário que se tornou o livro dos Salmos, onde contava e cantava sua vida com Deus.A prática da Lectio Divina emerge do silêncio, da solitude e do recolhimento. Conduz a um amadurecimento espiritual e ao autoconhecimento e gera um desejo de maior intimidade com Deus, e de servir ao próximo com santidade e discrição.
Espiritualidade libertadora
Espiritualidade libertadora
Ricardo Gondim
Deus nos concedeu vida e com ela uma dádiva extraordinária: liberdade. Os filhos de Deus foram chamados para cumprir o propósito último da criação alcançando uma independência semelhante à de Jesus Cristo. Ele usou sua liberdade para fazer o bem, submetendo-se voluntariamente a Deus. Caminhar livre é caminhar responsável; rechaçar a condição de subserviente; e não se deixar conduzir com coleiras. Somente os livres reconhecem sua dignidade humana, criada à imagem de Deus, e, sem servilismo, não baixam a cabeça para os opressores.
Religiosos também tentaram fazer seus seguidores rastejarem. Ao longo da história, o clero já montou estruturas com o intuito de escravizar pela intimidação, pavor e morte. Aterrorizavam porque ameaçavam com maldições divinas. Entretanto, é possível se precaver contra aqueles que ousam manipular e oprimir em nome de Deus.
1. Cuidado com instituições que prometem desgraça para os que se desligam delas. Uma organização que precisa resguardar a lealdade de seus membros com intimidação se inspira no diabo. Deus não propõe que seus relacionamentos se alicercem em suborno ou coerção.
2. Cuidado com líderes que tentam defender suas posições, proclamando terem recebido uma unção especial do céu. Eles se acham inquestionáveis. Porém, entre os humanos, ninguém fala “ex-cátedra” porque nenhuma profecia é de particular interpretação.
3. Cuidado com qualquer revelação misteriosa, que não pode ser contestada. Não aceite o estigma de rebelde só porque buscou compreender uma determinada doutrina. Uma pessoa não pode ser considerada insubmissa quando pergunta com motivações genuínas. Um culto legítimo precisa de racionalidade.
4. Cuidado com novas verdades que, de tão inéditas, sequer os apóstolos perceberam. Todo conceito novo deve produzir uma sensação de já ser conhecido, mas que pode precisar de maior elucidação ou sistematização. Toda grande heresia nasceu de pessoas que se acreditaram profetas de oráculos inéditos.
5. Cuidado com práticas que só acontecem em lugares de portas fechadas. Experiências religiosas em ambientes secretos tendem à promiscuidade ou ao autoritarismo. Não merece crédito quem precisa esconder o que pratica por medo de exposição. Deus é luz e deseja que se anunciem suas verdades de cima dos telhados.
6. Cuidado com líderes que se envaidecem de seus títulos e gostam de tratamentos formais. Jesus rejeitou a adulação piegas das pessoas e ensinou que seus seguidores não poderiam chamar ninguém de mestre, pois somente Deus merece honrarias como essa.
7. Cuidado com organizações que se estruturam com hierarquias de poder. O reino de Deus não funciona como os governos deste mundo, onde os fortes comandam. Igrejas que valorizam degraus, e incentivam o embate político, formam lideranças domesticadas que sempre concordam com os influentes do andar de cima. Os que desejam “chegar ao topo” correm o risco de vender a própria alma.
8. Cuidado com líderes que amam o dinheiro, principalmente os que enriqueceram. Eles se enxergam merecedores do melhor, sonham com projetos faraônicos e usam a lógica maquiavélica de que os fins justificam os meios; criam estruturas dispendiosas, carentes de um volume absurdo de recursos e, logo, não sabem se adoram para arrecadar ou se arrecadam para continuar adorando. Jesus já virou mesas de instituições assim.
9. Cuidado com igrejas que possuem um grupo de privilegiados no alto de sua estrutura. Essa elite blinda o líder de conviver com o povo e ele acaba desumanizado, pois perde contato com a realidade da vida e não ouve críticas; mal notam que seus bajuladores só querem preservar privilégios.
10. Cuidado com mensagens que enfatizam exageradamente a culpa. Um legalista precisa de pessoas que nunca se percebem livres. Ele não acredita em maturidade cristã, capitaliza com as inadequações humanas e tiraniza seus auditórios. Evangelho significa boa notícia e deve gerar ambientes felizes, nunca paranóicos.
Dois mil anos atrás, João admoestou seus leitores que provassem os espíritos (1 Jo 4.1). Nunca precisamos seguir seu conselho tanto como agora.
Ricardo Gondim
Deus nos concedeu vida e com ela uma dádiva extraordinária: liberdade. Os filhos de Deus foram chamados para cumprir o propósito último da criação alcançando uma independência semelhante à de Jesus Cristo. Ele usou sua liberdade para fazer o bem, submetendo-se voluntariamente a Deus. Caminhar livre é caminhar responsável; rechaçar a condição de subserviente; e não se deixar conduzir com coleiras. Somente os livres reconhecem sua dignidade humana, criada à imagem de Deus, e, sem servilismo, não baixam a cabeça para os opressores.
Religiosos também tentaram fazer seus seguidores rastejarem. Ao longo da história, o clero já montou estruturas com o intuito de escravizar pela intimidação, pavor e morte. Aterrorizavam porque ameaçavam com maldições divinas. Entretanto, é possível se precaver contra aqueles que ousam manipular e oprimir em nome de Deus.
1. Cuidado com instituições que prometem desgraça para os que se desligam delas. Uma organização que precisa resguardar a lealdade de seus membros com intimidação se inspira no diabo. Deus não propõe que seus relacionamentos se alicercem em suborno ou coerção.
2. Cuidado com líderes que tentam defender suas posições, proclamando terem recebido uma unção especial do céu. Eles se acham inquestionáveis. Porém, entre os humanos, ninguém fala “ex-cátedra” porque nenhuma profecia é de particular interpretação.
3. Cuidado com qualquer revelação misteriosa, que não pode ser contestada. Não aceite o estigma de rebelde só porque buscou compreender uma determinada doutrina. Uma pessoa não pode ser considerada insubmissa quando pergunta com motivações genuínas. Um culto legítimo precisa de racionalidade.
4. Cuidado com novas verdades que, de tão inéditas, sequer os apóstolos perceberam. Todo conceito novo deve produzir uma sensação de já ser conhecido, mas que pode precisar de maior elucidação ou sistematização. Toda grande heresia nasceu de pessoas que se acreditaram profetas de oráculos inéditos.
5. Cuidado com práticas que só acontecem em lugares de portas fechadas. Experiências religiosas em ambientes secretos tendem à promiscuidade ou ao autoritarismo. Não merece crédito quem precisa esconder o que pratica por medo de exposição. Deus é luz e deseja que se anunciem suas verdades de cima dos telhados.
6. Cuidado com líderes que se envaidecem de seus títulos e gostam de tratamentos formais. Jesus rejeitou a adulação piegas das pessoas e ensinou que seus seguidores não poderiam chamar ninguém de mestre, pois somente Deus merece honrarias como essa.
7. Cuidado com organizações que se estruturam com hierarquias de poder. O reino de Deus não funciona como os governos deste mundo, onde os fortes comandam. Igrejas que valorizam degraus, e incentivam o embate político, formam lideranças domesticadas que sempre concordam com os influentes do andar de cima. Os que desejam “chegar ao topo” correm o risco de vender a própria alma.
8. Cuidado com líderes que amam o dinheiro, principalmente os que enriqueceram. Eles se enxergam merecedores do melhor, sonham com projetos faraônicos e usam a lógica maquiavélica de que os fins justificam os meios; criam estruturas dispendiosas, carentes de um volume absurdo de recursos e, logo, não sabem se adoram para arrecadar ou se arrecadam para continuar adorando. Jesus já virou mesas de instituições assim.
9. Cuidado com igrejas que possuem um grupo de privilegiados no alto de sua estrutura. Essa elite blinda o líder de conviver com o povo e ele acaba desumanizado, pois perde contato com a realidade da vida e não ouve críticas; mal notam que seus bajuladores só querem preservar privilégios.
10. Cuidado com mensagens que enfatizam exageradamente a culpa. Um legalista precisa de pessoas que nunca se percebem livres. Ele não acredita em maturidade cristã, capitaliza com as inadequações humanas e tiraniza seus auditórios. Evangelho significa boa notícia e deve gerar ambientes felizes, nunca paranóicos.
Dois mil anos atrás, João admoestou seus leitores que provassem os espíritos (1 Jo 4.1). Nunca precisamos seguir seu conselho tanto como agora.
Aba Pai
Aba, Pai
Osmar Ludovico
Jesus se sentiu de tal forma e com tal intensidade vinculado a Deus, que só conseguiu expressar-se utilizando a categoria da filiação. Ele se dirige a Deus chamando-O de Aba, palavra aramaica que os tradutores não ousaram tocar, não conseguiram outra para expressar todo seu conteúdo. Aba – baba nas línguas semíticas, papa nas latinas, dada nas anglo-saxônicas – é a forma carinhosa com que a criança chama seu pai, vocábulo primitivo, que o nenê balbucia. Somente a palavra Aba consegue transmitir o que Jesus Cristo sentia quando olhava para Deus. Aba é uma das palavras mais densas de todo o Novo Testamento. Ela nos revela esse mistério íntimo e supremo da relação de Jesus com Deus. Jesus invoca a Deus com esse termo denotador de familiaridade e intimidade absoluta. Com essa palavra é possível abrir uma pequena fresta no mistério de Deus. Uma fresta que nos permite deslumbrar a ternura, o cuidado e o afago de Deus. Jesus Cristo chama Deus de Pai, Aba, Papai, Painho. Ao chamar Deus de Pai, Jesus nos revela o segredo de Seu ser único. Assim, o Deus vivo e verdadeiro, o criador do universo, a quem não vemos, é o Pai de Jesus Cristo. O Deus Altíssimo, o Todo-Poderoso, passa a ser definido como o Pai de Jesus. Lemos no Evangelho de João que Jesus diz: “Eu e o Pai somos um” (10:30), e ainda: “Ninguém jamais viu o Pai, o Deus unigênito, que está no seio do Pai que o revelou” (1:18). Felipe pede a Jesus: “Mostra-nos o Pai”, e Jesus responde: “Quem vê a mim vê o Pai” (João 14:8-9). Assim, podemos dizer que Deus Pai escolheu se revelar por meio de Cristo, e isso tem dois desdobramentos: • Da parte de Deus, Ele se revela a nós tão-somente por intermédio de Jesus Cristo. • Da nossa parte, só podemos conhecer e nos relacionar com Deus por meio de Seu Filho Jesus Cristo. Deus é revelado ao homem essencialmente na lógica do amor, da ternura, da proteção. Pai é aquele que gera, que cuida, que protege, que carrega, que dá direção e limites, que educa, que lança para a vida. Um Pai com muitas coisas de mãe, que tem carinho, colo e afago. Toda a experiência humana de Jesus Cristo em relação a Deus como Filho, toda Sua vivência de dependência, vínculo, proximidade, intimidade pode também ser nossa pela adoção. Pois, quando nos convertemos, nos tornamos filhos de Deus: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem em seu nome” (João 1:12). Ou ainda: “E porque sois filhos enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama Aba Pai, de sorte que não és escravo, porém filho e sendo filho também herdeiro de Deus” (Gálatas 4:6). A filiação é a nossa identidade no mais profundo, no âmago. Quem somos nós? Somos pecadores a quem Deus fez Seus filhos amados. Essa convicção profunda, testificada no nosso coração pelo Espírito Santo, gera uma profunda alegria – a alegria da afirmação de nossa identidade. A oração que Jesus ensinou aos Seus discípulos começa com Aba, Pai e expressa uma invocação cheia de afeto, júbilo, louvor, alegria, submissão, intimidade e respeito. Quando invocamos a Deus como nosso Pai, o discipulado passa a ser visto na ótica da filiação. Os seguidores e discípulos de Jesus Cristo são vistos como filhos, e a comunidade cristã é vista como família de Deus. Então, a caminhada de fé passa a ser permeada por essa relação de paternidade, filiação e fraternidade. Um relacionamento marcado por essa proximidade afetiva de Deus para com os discípulos que se tornaram Seus filhos e irmãos entre si. A queda nos lançou numa terra distante, e se converter significa voltar para a casa do Pai, como fez o filho pródigo. Um Pai amoroso que nos acolhe sem restrições e pelos méritos da cruz de Cristo nos perdoa, nos abraça e faz festa. Nossa filiação é a grande afirmação do Novo Testamento, e Aba Pai é a expressão mais exata para traduzir em nosso mundo a experiência que temos com Deus. Estamos reconciliados com nosso Pai Celestial.Osmar Ludovico é um dos pastores da Comunidade de Cristo, em Curitiba, e trabalha com grupos de espiritualidade, casais e restauração
Osmar Ludovico
Jesus se sentiu de tal forma e com tal intensidade vinculado a Deus, que só conseguiu expressar-se utilizando a categoria da filiação. Ele se dirige a Deus chamando-O de Aba, palavra aramaica que os tradutores não ousaram tocar, não conseguiram outra para expressar todo seu conteúdo. Aba – baba nas línguas semíticas, papa nas latinas, dada nas anglo-saxônicas – é a forma carinhosa com que a criança chama seu pai, vocábulo primitivo, que o nenê balbucia. Somente a palavra Aba consegue transmitir o que Jesus Cristo sentia quando olhava para Deus. Aba é uma das palavras mais densas de todo o Novo Testamento. Ela nos revela esse mistério íntimo e supremo da relação de Jesus com Deus. Jesus invoca a Deus com esse termo denotador de familiaridade e intimidade absoluta. Com essa palavra é possível abrir uma pequena fresta no mistério de Deus. Uma fresta que nos permite deslumbrar a ternura, o cuidado e o afago de Deus. Jesus Cristo chama Deus de Pai, Aba, Papai, Painho. Ao chamar Deus de Pai, Jesus nos revela o segredo de Seu ser único. Assim, o Deus vivo e verdadeiro, o criador do universo, a quem não vemos, é o Pai de Jesus Cristo. O Deus Altíssimo, o Todo-Poderoso, passa a ser definido como o Pai de Jesus. Lemos no Evangelho de João que Jesus diz: “Eu e o Pai somos um” (10:30), e ainda: “Ninguém jamais viu o Pai, o Deus unigênito, que está no seio do Pai que o revelou” (1:18). Felipe pede a Jesus: “Mostra-nos o Pai”, e Jesus responde: “Quem vê a mim vê o Pai” (João 14:8-9). Assim, podemos dizer que Deus Pai escolheu se revelar por meio de Cristo, e isso tem dois desdobramentos: • Da parte de Deus, Ele se revela a nós tão-somente por intermédio de Jesus Cristo. • Da nossa parte, só podemos conhecer e nos relacionar com Deus por meio de Seu Filho Jesus Cristo. Deus é revelado ao homem essencialmente na lógica do amor, da ternura, da proteção. Pai é aquele que gera, que cuida, que protege, que carrega, que dá direção e limites, que educa, que lança para a vida. Um Pai com muitas coisas de mãe, que tem carinho, colo e afago. Toda a experiência humana de Jesus Cristo em relação a Deus como Filho, toda Sua vivência de dependência, vínculo, proximidade, intimidade pode também ser nossa pela adoção. Pois, quando nos convertemos, nos tornamos filhos de Deus: “Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem em seu nome” (João 1:12). Ou ainda: “E porque sois filhos enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama Aba Pai, de sorte que não és escravo, porém filho e sendo filho também herdeiro de Deus” (Gálatas 4:6). A filiação é a nossa identidade no mais profundo, no âmago. Quem somos nós? Somos pecadores a quem Deus fez Seus filhos amados. Essa convicção profunda, testificada no nosso coração pelo Espírito Santo, gera uma profunda alegria – a alegria da afirmação de nossa identidade. A oração que Jesus ensinou aos Seus discípulos começa com Aba, Pai e expressa uma invocação cheia de afeto, júbilo, louvor, alegria, submissão, intimidade e respeito. Quando invocamos a Deus como nosso Pai, o discipulado passa a ser visto na ótica da filiação. Os seguidores e discípulos de Jesus Cristo são vistos como filhos, e a comunidade cristã é vista como família de Deus. Então, a caminhada de fé passa a ser permeada por essa relação de paternidade, filiação e fraternidade. Um relacionamento marcado por essa proximidade afetiva de Deus para com os discípulos que se tornaram Seus filhos e irmãos entre si. A queda nos lançou numa terra distante, e se converter significa voltar para a casa do Pai, como fez o filho pródigo. Um Pai amoroso que nos acolhe sem restrições e pelos méritos da cruz de Cristo nos perdoa, nos abraça e faz festa. Nossa filiação é a grande afirmação do Novo Testamento, e Aba Pai é a expressão mais exata para traduzir em nosso mundo a experiência que temos com Deus. Estamos reconciliados com nosso Pai Celestial.Osmar Ludovico é um dos pastores da Comunidade de Cristo, em Curitiba, e trabalha com grupos de espiritualidade, casais e restauração
Subscrever:
Mensagens (Atom)