PENSAMENTO

A igreja é a única organização que existe primariamente para benefício dos não-membros” (C. S. Lewis)

11/06/2011

VOCÊ PODE OUVIR A VOZ DE DEUS!


O momento que vivemos está tão comprometido com o materialismo e com o pensamento cognitivo, analítico, que quase zombamos quando ouvimos alguém afirmar que é capaz de ouvir a voz de Deus. Mas nós não escarnecemos, por várias razões. A primeira delas é que homens e mulheres, por toda a Bíblia, ouviram a voz de Deus. E também há vários homens e mulheres que estão vivos hoje, pessoas altamente eficientes e respeitáveis, que demonstram poder ouvir a voz de Deus. Finalmente, existe uma profunda fome dentro de nós por comunhão com Deus e por ouvi-Lo falar em nossos corações.

Eu era crente, nascido de novo, cria na Bíblia, mas passei anos lutando sem sucesso para ouvir a voz de Deus. Eu orava, jejuava, estudava minha Bíblia e tentava ouvir uma voz lá dentro de mim, mas era tudo em vão. Não havia voz interior que eu pudesse ouvir! Foi aí que Deus me separou, por um ano, para estudar, ler e experimentar a área de ouvir a Sua voz. Durante aquele tempo o Senhor me ensinou quatro chaves que abriram as portas para uma oração de mão dupla. Eu descobri que elas não somente funcionam comigo, mas que funcionaram igualmente com muitos milhares de crentes que foram ensinados a usá-las, trazendo tremenda intimidade para a sua experiência cristã e transformando toda a sua maneira de viver. Assim, à medida que você buscar a Deus utilizando as quatro chaves que se seguem, o mesmo acontecerá com você. Elas se encontram em Habacuque 2.1,2. Eu o encorajo a ler este texto bíblico antes de continuar.

Chave N° 01 – A voz de Deus em nossos corações soa como um fluir de pensamentos espontâneos. Logo, quando eu me sintonizo com Deus, eu me sintonizo com a espontaneidade.

A Bíblia diz: “O Senhor me respondeu, e disse…” (Habacuque 2.2). Habacuque conhecia o som da voz de Deus. Elias descreveu-a como uma voz mansa e suave (I Reis 19.12). Eu sempre tinha procurado por uma voz interior audível, e com certeza Deus pode, e algumas vezes Ele fala dessa maneira. Contudo, eu descobri que para muitos de nós, muitas vezes, a voz íntima de Deus chega até nós na forma de pensamentos espontâneos, visões, sentimentos ou impressões. Por exemplo, quem de nós já não teve a experiência de estar dirigindo pela estrada e de repente ter o pensamento de orar por determinada pessoa? Nós geralmente reconhecemos que aquilo é a voz de Deus nos chamando para orar por aquele indivíduo. Minha pergunta para você é: “Como foi o som da voz de Deus quando você dirigia o carro? Foi uma voz interior, audível, ou foi um pensamento que brilhou na sua mente?” Muitos de vocês diriam que a voz de Deus veio até vocês como um pensamento espontâneo.

Então eu pensei comigo mesmo: “Pode ser que, quando eu escuto a voz de Deus, eu estou mesmo ouvindo um jorrar de pensamentos espontâneos. Talvez a comunicação no nível do espírito seja recebida como pensamentos, impressões, sentimentos e visões espontâneos”. Através de experimentação, e procurando conhecer as impressões de outros milhares de pessoas, eu agora estou convencido que é assim mesmo.

A Bíblia confirma isto de muitas maneiras. A definição de paga, a palavra hebraica para intercessão, é: “um encontro casual ou um cruzamento acidental”. Quando Deus coloca pessoas em nosso coração para que intercedamos por elas, Ele faz isso por meio da paga, um pensamento de encontro casual que acidentalmente cruza nossos processos de pensamento. Assim, quando eu me sintonizo com Deus, eu me sintonizo com pensamentos de encontro casual ou pensamentos espontâneos. Eu tenho descoberto que, quando eu estou tranquilamente equilibrado diante de Deus em oração, o jorrar de pensamentos que vem é sem dúvida de Deus.

Chave N° 02 – Eu devo aprender a acalmar meus próprios pensamentos e emoções para poder sentir o fluir dos pensamentos e emoções de Deus dentro de mim.

Habacuque disse: “Pôr-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza…” (Habacuque 2.1). Habacuque sabia que para ouvir os pensamentos mansos, suaves e espontâneos de Deus, ele deveria primeiro ir para um lugar tranqüilo e acalmar seus pensamentos e emoções. O Salmo 46.10 nos encoraja a ficar quietos e saber que Ele é Deus. Há um conhecimento íntimo e profundo (jorrar espontâneo) em nossos espíritos, o qual cada um de nós pode experimentar, quando aquietamos nossa carne e nossas mentes.

Eu descobri várias maneiras simples de me aquietar para poder mais prontamente absolver o fluir espontâneo de Deus. Amar a Deus por meio de um cântico tranqüilo de adoração é o meio mais eficiente para mim (veja II Reis 3.15). É quando eu paro quieto (pensamentos, vontade e emoções) e fico equilibrado diante de Deus que o fluir divino acontece. Então, depois que eu adoro tranquilamente e fico quieto, eu me abro para esse fluir espontâneo. Se me vêm pensamentos de coisas que eu esqueci de fazer, eu os escrevo e os mando embora. Se pensamentos de culpa ou de falta de merecimento vêm a minha mente, eu me arrependo prontamente, recebo o lavar do sangue do Cordeiro e me visto com Seu manto de justiça, enxergando-me como perfeito diante da presença de Deus (Isaías 61.10; Colossenses 1.22).

Quando eu fixo meu olhar em Jesus (Hebreus 12.2), aquietando-me em Sua presença e compartilhando com Ele o que está no meu coração, eu descubro que o diálogo de mão dupla começa a fluir. Pensamentos espontâneos fluem do trono de Deus para mim, e eu sinto que eu estou realmente conversando com o Rei dos reis.

Se você quiser receber a pura palavra de Deus, é muito importante que você fique quieto e corretamente focalizado. Se você não ficar quieto, você estará recebendo simplesmente seus próprios pensamentos. Se você não estiver corretamente focalizado em Jesus, você receberá um fluir impuro, pois o fluir intuitivo vem daquilo em que você fixou os seus olhos. Assim, se você fixar os seus olhos em Jesus, o fluir intuitivo vem de Jesus. Se você voltar os seus olhos para algum desejo do seu coração, o fluir intuitivo virá daquele desejo do seu coração. Para receber um fluir puro você deve antes de tudo ficar quieto e, segunda coisa, você deve cuidadosamente fixar os seus olhos em Jesus. Vou repetir: isto é facilmente conseguido por meio de uma suave adoração ao Rei, junto com uma quietude que nos habilita a receber o seu fluir.

Chave N° 03 – Ao orar, eu fixo os olhos do meu coração em Jesus, contemplando no Espírito os sonhos e as visões do Deus Todo-poderoso.

Já fizemos alusão a isto nos parágrafos anteriores, mas agora precisamos desenvolvê-lo um pouco mais. Habacuque disse: “Eu vigiarei para ver”. E Deus disse: “Escreve a visão” (Habacuque 2.1,2). É muito interessante que Habacuque devia realmente começar a procurar por visão enquanto orava. Ele devia abrir os olhos do seu coração e olhar dentro do mundo do espírito para ver o que Deus queria lhe mostrar. Esta é uma idéia intrigante.

Eu nunca pensei em abrir os olhos do meu coração e procurar por visão. Porém, quanto mais eu pensava nisto, mais eu percebia que é isto que Deus desejava que eu fizesse. Ele me deu olhos no coração. Esses olhos devem acostumar-se a enxergar no mundo do espírito a visão e a movimentação do Todo-poderoso. Eu creio que há um mundo espiritual muito ativo agindo ao meu redor. Este mundo está cheio de anjos, demônios, do Espírito Santo, do Deus onipresente e Seu onipresente Filho Jesus. Não há razão para que eu não o veja, a não ser minha cultura racional que me diz para não crer nem mesmo que este mundo espiritual existe, nem me fornece qualquer instrução sobre como me abrir para ele.

O pré-requisito mais óbvio para enxergar é aquele que precisamos olhar. Daniel estava tendo uma visão em sua mente, e disse: “Eu estava olhando... Continuei olhando… Eu estava olhando...” (Daniel 7.2,9,13). Agora, quando eu oro, eu procuro Jesus presente comigo, e O observo enquanto Ele fala comigo, fazendo e dizendo as coisas que estão no Seu coração. Muitos cristãos descobrirão que basta olhar que eles verão. Jesus é Emanuel, Deus conosco (Mateus 1.23). É simples assim. Você verá uma visão calma e espontânea, semelhante a quando você recebe tranqüilos pensamentos espontâneos. Você pode ver Cristo presente com você num ambiente confortável, porque Cristo está presente com você num ambiente confortável. Na verdade, você provavelmente vai perceber que aquela visão interior virá tão facilmente que você terá a tendência de rejeitá-la, pensando que é apenas você. (A dúvida é a arma mais efetiva de Satanás contra a igreja). Porém, se você persistir em gravar essas visões, sua dúvida logo será vencida pela fé, ao você reconhecer que o conteúdo das suas visões só pode ser gerado no Deus Todo-poderoso.

Deus Se revelava continuamente para o Seu povo da aliança usando sonhos e visões. Ele fez assim de Gênesis a Apocalipse e disse que, uma vez que o Espírito Santo fosse derramado em Atos 2, nós devíamos esperar receber um fluir contínuo de sonhos e visões (Atos 2.1-4, 17). Jesus, nosso exemplo perfeito, demonstrou esta habilidade de viver pelo contato contínuo com o Deus Todo-poderoso. Ele disse que Ele não fazia nada de Sua própria iniciativa, mas apenas aquilo que ele viu o Pai fazer, e ouviu o Pai dizer (João 5.19,20,30). Que maneira tremenda de viver!

É realmente possível para nós vivermos da iniciativa divina como Jesus fez? Um dos maiores propósitos da morte e ressurreição de Jesus foi rasgar o véu de alto a baixo, dando-nos acesso à imediata presença de Deus, e nós somos ordenados a nos aproximar (Lucas 23.45; Hebreus 10.19-22). Dessa maneira, mesmo que aquilo que eu estou descrevendo pareça um pouco incomum para a cultura racional do século vinte, ele é demonstrado e descrito como uma experiência e ensino bíblico fundamentais. É tempo de restaurar na igreja tudo aquilo que lhe pertence.

Por causa da natureza e existência intensamente racional numa cultura altamente racional, alguns precisarão de mais assistência e entendimento dessas verdades antes que possam fluir nelas. Eles encontrarão ajuda no livro Comunhão com Deus, dos mesmos autores.

Chave N° 04 – Manter um diário, escrever nossas orações e as respostas de Deus, fornece uma grande e renovada liberdade em ouvir a voz de Deus.

Deus disse para Habacuque registrar a visão e escrevê-la sobre pedras... (Habacuque 2.2). Nunca me passou pela mente escrever minhas orações e as respostas de Deus como Habacuque fez diante da ordem de Deus. Se você começar a pesquisar a Bíblia sobre essa idéia, você encontrará centenas de capítulos que demonstram isto (Salmos, muitos dos profetas, Apocalipse). Por que, então, eu nunca pensei sobre isto?

Eu chamei este processo de “escrever um diário”, e comecei a experimentá-lo. Eu descobri que isto é uma ajuda fabulosa para discernir claramente o fluir suave e espontâneo de Deus, porque quando eu escrevia, eu era capaz de escrever em fé por longos períodos de tempo, simplesmente crendo que era Deus. Eu não precisava testar o conteúdo enquanto eu o estava recebendo (o que pode bloquear nossa recepção), porque eu sabia que quando aquele fluir passasse eu podia voltar e testá-lo, examiná-lo cuidadosamente, para ter certeza de que ele se alinha com a Palavra de Deus.

Você ficará maravilhado quando tentar escrever um diário. A dúvida pode nos atrapalhar no começo, mas rejeite-a, lembrando-se de que isto é um conceito bíblico, e que Deus está presente, falando aos Seus filhos. Não se leve tão a sério. Quando você o faz, você fica tenso e atrapalha o mover do Espírito Santo. É somente quando nós paramos com nossas obras e entramos em Seu descanso que Deus fica livre para fluir (Hebreus 4.10). Por isso, coloque um sorriso no seu rosto, recoste-se confortavelmente, pegue sua caneta e papel, e volte a sua atenção em direção a Deus em louvor e adoração, buscando Sua face. Quando você escrever sua pergunta para Deus e ficar quieto, fixando seu olhar em Jesus, que está presente com você, você de repente terá um bom pensamento em resposta ao seu questionamento. Não duvide, simplesmente escreva. Mais tarde, quando você for ler suas anotações, você também será abençoado ao descobrir que você está realmente dialogando com Deus.

Algumas considerações finais: Ninguém deve tentar isto sem primeiro ter lido pelo menos todo o Novo Testamento (de preferência a Bíblia inteira), nem deve tentar isto se não estiver debaixo de uma sólida liderança espiritual. Todo mover ou direção que vier por meio da escrita de diários devem ser apreciados antes que você comece a agir de acordo com eles.

(MARK VIRKLER)

09/06/2008

Comum.


ARIOVALDO RAMOS

“Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.” (Rm 3.10-12).

Sendo essa afirmação verdadeira, como se explica o mundo?

Há progresso; amizades continuam a existir e a ser formadas; o amor continua sendo sentido e buscado, gerando encontros, famílias; há sede de justiça; há fraternidade; há solidariedade; há o senso do belo; enfim, os seres humanos ainda perseguem a ética, a liberdade e a vida.

De duas, uma: ou Paulo se equivocou ou Deus fez algo que alterou significativamente a condição humana.

Deus fez algo!

Os teólogos da reforma protestante chamam isso de Graça Comum, que - fruto do sacrifício de Cristo - é o poder de Deus para dar ao ser humano condições mínimas de qualidade espiritual, ética e moral que tornam possível a sobrevivência da humanidade na história, o que é necessário para que a história da salvação se complete. Já pensou se a iniqüidade humana tivesse impedido a humanidade de chegar até ao que Paulo chamou de plenitude dos tempos, o tempo da chegada de Cristo? Sim, porque iniqüidade tem limite, como o dilúvio o demonstrou.

Paulo falando do relacionamento de Deus com os que não o adoravam nem o conheciam, descreve essa graça: “Contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria.” (At 14.17). Deus garantiu condições de sobrevivência e de existência. Por isso, por exemplo, vale a pena ensinar, pois, por causa da graça comum, os homens têm condições de aprender. E isso é verdade para todas as possibilidades humanas.

Para a sua meditação: Envolver-se na promoção do progresso humano é cooperar com Deus na manutenção da humanidade na história.

25/05/2008

Como Deus escreve a vida.


Philip Yancey

“Para você, está ficando mais fácil escrever?” – perguntou alguém recentemente. Depois de três décadas ganhando a vida colocando palavras no papel, tenho que responder “não”. Quanto mais escrevo, mais consciente fico dos meus problemas, como clichês, buracos, imagens fracas e repetições. Quanto tento superar um outro desafio, como subir uma escada ou escalar uma montanha, digo a mim mesmo: “Sim, isto é mais difícil que escrever”.

Um dia, numa hora de riso, perguntei-me se Deus sabia alguma coisa sobre o processo que eu atravessava. Deus falou, mas escreveu? Procurei exemplos na Bíblia. Os Dez Mandamentos vieram logo à minha mente. Êxodo registra que Deus deu a Moisés duas tábuas inscritas pelo seu próprio dedo. A ênfase é que as tábuas foram uma obra de Deus; sua escrita foi gravar nas tábuas (Ex. 31.18; 32.16). Os eruditos dizem que as tábuas fixaram um tratado ou acordo entre Deus e os israelitas, a exemplo dos tratados entre outros governantes e seus súditos, os quais estabeleciam o que deveria ser esperado de cada parte. Diferentemente dos seus vizinhos, os israelitas não precisavam temer os caprichos de Deus, que tinha assinado um tratado honesto.

Quando Moisés desceu do Monte Sinai, contudo, os israelitas já tinham quebrado os dois primeiros mandamentos. Furioso, Moisés despedaçou as tábuas, o que levou Deus a reescrever algo pela primeira vez.

A cena seguinte sobre a escrita sobrenatural aconteceu na terra da Babilônia (atual Iraque), quando o rei Belsazar profanou os copos de ouro do templo em Jerusalém ao servir vinho neles para lubrificar seu grande banquete. Repentinamente, os dedos de uma mão apareceram e escreveram quatro palavras no reboco. O rei observou a mão enquanto ela escrevia. Seu rosto ficou pálido, e ele ficou tão assustado que os seus joelhos batiam um no outro e as suas pernas vacilavam” (Dn 5.5-6). Belsazar tinha razão para temer: naquela noite o poderoso império babilônico cairia diante dos persas (iranianos de hoje).

Os Evangelhos registram uma única ocorrência de Jesus escrevendo, e mesmo assim não consta dos manuscritos mais antigos (João 8.1-11). As autoridades religiosas tinham flagrado uma mulher no ato do adultério e arrastaram-na até Jesus para lhe armar uma arapuca. Por ter quebrado um dos Dez Mandamentos, merecia a morte, segundo a lei mosaica. Por outro lado, os romanos proibiam os judeus de praticar a pena capital. O que Jesus disse, na ocasião?

Ele não disse nada, mas se abaixou e escreveu no chão. Como escritor, acho humilhante que na única vez em que vemos Jesus escrevendo, Ele usa como meio a areia – para que as palavras fossem levadas pelo vento ou varridas pela chuva. Além disso, o autor não se ocupa em nos contar o que Jesus escreveu.

Quando finalmente falou, Jesus disse: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. A arapuca desarmou, mas para cima dos acusadores. Então, a única pessoa ali que estava sem pecado, e que tinha o direito de exercer o julgamento, abriu mão de fazê-lo.

O reino da graça emergiu.

Em outra situação, Jesus resumiu os Dez Mandamentos com um “Ame o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente” e também com “Ama teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem destes dois mandamentos” (Mt 22.37-40). Tomando por empréstimo uma imagem dos profetas, o apóstolo Paulo mais tarde falou de leis escritas no coração.

Ele disse aos coríntios (sim, aos animados coríntios): “Vocês demonstram que são uma carta de Cristo, resultado do nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de corações humanos” (2 Co 3.3).

Encontrei poucas cenas em que Deus aparece como um escritor. Reunidas, elas mostram uma progressão em direção à graça, envolvendo cada membro da Trindade.

No entanto, os três meios – tábuas de pedra, reboco de parede e areia – não sobreviveram à devastação da história. A literatura de Deus vem passando de geração em geração. “Somos obras de arte de Deus”, disse Paulo aos efésios (2.10), usando a palavra grega “poiema”, do qual recebemos “poema”.

Depois de resumir as cenas em que Deus está escrevendo, não mais me senti tão incomodado. Compor palavras no papel é uma coisa; criar obras de arte sagradas a partir do ser humano é outra coisa bem diferente.
(Tradução de Israel Belo de Azevedo)

21/05/2008

FAZENDO A SUA VIDA


Lc 15.11-32 descreve dois irmãos: um obediente ao pai e outro, pródigo, que pediu sua parte da herança e partiu. Estória que ilustra o que podemos fazer com a vida que nos foi dada.

O pródigo esbanjou tudo, numa terra estranha, nos “prazeres da vida”. Num período de fome, trabalhando como guardador de porcos, desejava comer da comida deles. Um fim indigno de um ser humano.

O obediente ficou com o pai, porém, deixou-se amargurar por achar que nunca teve sua fidelidade recompensada; sentia-se mais empregado do que filho.

A exemplo deles, uns buscam o prazer, nisso, porém, jogando fora a vida. Outros, preferem a seriedade das responsabilidades, porém, acabam não se relacionando nem com os que amam. Tristemente sérios, deixam um rastro de gente machucada.

A exemplo deles: uns buscam uma aventura, uma paixão, um significado para a vida; entregando-se a todo o tipo de loucuras. Outros, mesmo sendo “certinhos”, não vêem a vida lhes sorrir. Terminam ora revoltados; ora conformados, porém, sem brilho nos olhos.

Parece que, ou se é sério, tendo por preço relacionamentos frios; ou se é intenso e paga-se com desventuras e riscos desnecessários.

De fato, ambos não entenderam o Pai, que propõe o casamento entre a seriedade e a festa; entre a responsabilidade e a aventura; a paixão e o compromisso. Uma vida que se realiza enquanto realiza.

Se alguém se vê, em alguma coisa, em um deles: No arrependimento o Pai o perdoará e o levará à vida onde amor e previdência; paixão e fidelidade; aventura e sobriedade se encontram. Uma vida abundante.

10/05/2008

A Cruz Como Metafísica de Todas as Coisas

(Caio Fabio)

A Cruz vem antes de todas as Coisas, e, portanto, também antes de todas as Quedas. Só houve a possibilidade de haver Liberdade — incluindo os terríveis riscos de haver Quedas— porque, antecipadamente, já havia o Cordeiro e Seu Sangue conhecido com efeito antes da fundação do mundo—sim! antes de todo e qualquer mundo. “Haja Cruz”—foi o grito que nenhuma criatura ouviu ser bradado, pois, Quem o bradou estava só! Esse clamor do Deus agonizante antes de parir Seus mundos—todos eles—, nenhuma criatura ouviu. Nem mesmo os anjos—os filhos de Deus que alegremente viram e cantaram a sabedoria de Deus na Criação— ainda não existiam para testemunhar esse Brado. Afinal, eles vieram depois dele. Daí a Cruz ter sido e ser para eles um mistério, aliás, o Mistério! Era um entendimento de Deus com Deus. E ninguém existia para ser Seu conselheiro. Daí ter sido também o Grande Mistério que nem Lúcifer conhecia. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparas-te?”—fez-se ouvir antes que qualquer criatura ou criação experimentasse consciência de queda e desamparo! Pensar diferente é crer numa Cruz que veio depois—ou seja: sendo apenas uma tentativa divina de remendar Seus próprios erros como Criador e Sua culpa ante a Criação. Quando se diz que o Cordeiro de Deus foi imolado antes da criação do mundo, diz-se também que a provisão da Graça é a única Liberdade possível na Terra, pois, essa certeza do Amor Gracioso que se entregou pelos equívocos e pecados da Criação antes dela existir, carrega consigo uma profunda libertação da culpa de ser e de todas as fobias existenciais que ela patrocina. Estou convencido de que é somente vivendo com essa consciência em fé é que se pode experimentar a libertação de todo medo de ser, viver, existir e, também, pode-se assumir a própria consciência como o Santo dos Santos de cada indivíduo na Terra. Aqui começa a liberdade. Nenhuma liberdade que não nasça da consciência em fé de que este universo tanto é fruto do Amor de Deus quanto também de Sua entrega Sacrificial pela Criação pode ser chamada de liberdade. Isto porque antes de qualquer Criação existir a Cruz foi Erguida! Ora, é isto que pode nos fazer viver como pecadores livres do pecado-culpa de ser, que é a mais latente de todas as culpas que o ser humano conhece. O Perfeito Amor lança fora o medo! Só se perde o medo de ser quando se perde o medo de Deus! E isto só acontece em plenitude mediante a Liberdade que nasce da Graça Pré-existente de Deus, na entrega do Cordeiro Eterno, que é Cristo Jesus, o Nosso Senhor! No dia em que essa consciência em fé nos possui, acontece o funeral religioso da Teologia Moral de Causa e Efeito! “O Cordeiro Imolado Antes da Fundação do Mundo”—é, para mim, a afirmação apostólica cujas implicações incidem sobre todos os aspectos de qualquer que seja a compreensão cristã da Existência! Depois dela fica mais fácil entender como e porque Nele tudo subsiste, sem que isto implique em indiferença divina para com Sua Criação ou em solidariedade divina para com o mal que passou a habitar a Criação. Do contrário, por que seria Ele a Fonte Criadora e Mantenedora de Todas as Existências, sendo Ele, ao mesmo tempo, o Criador Eternamente Separado de considerável parte de Sua própria Criação? E isto enquanto a alimenta com energia de existir que nem sempre é usada na direção da Vida?! Num universo onde existe o mal, a inclusão dele como dependente da energia vital que procede de Deus só faz sentido se o Cordeiro tiver sido imolado antes que as partes que se desintegraram de sua comunhão com o Criador houvessem sido criadas. Isto porque é preciso diferenciar o Criador, de toda e qualquer escolha que na Criação tenha implicado em Queda. Digo isto ao mesmo tempo em que sei que não é possível fazer tal diferenciação completamente. E por que? É que fora de Deus não existe nada absoluto. Ora, algo é Absoluto quando é Auto-Existente. Todavia, há um só Deus e Pai de todos, que age por meio de todos e está em todos! Portanto, qualquer criatura existe em Deus, mesmo que sua livre escolha seja existir sem a Vida de Deus agora ou para sempre. Isto também é liberdade! e é sua mais terrível manifestação! A escolha pelo inferno de ser! O Cordeiro imolado antes da fundação do mundo é também a garantia de que qualquer criatura pode escolher existir eternamente danada, no inferno de suas resistentes escolhas enganadas. Afinal, até para que se tenha a liberdade de escolher não-ser-de-Deus tem-se que usar das graças naturais que Dele provêm a fim de nos manter existindo! Daí haver a Hora chamada de o Grande Dia da Ira do Cordeiro. A Graça oferecida desde antes da fundação do mundo, em sendo pisada pelos pés conscientes da indiferença, gera, ao final da presente era da consciência caída, o Dia do Juízo, onde Aquele que deu—e deu tudo—pela Criação, haverá de se levantar em seu favor e contra os seus espoliadores conscientes e insensíveis. O Grande Dia da Ira do Cordeiro é, paradoxalmente, o Dia da Graça para a Criação. É o juízo sobre os que devoram Terra, seus recursos, suas criaturas, seus oceanos, fontes de águas, suas maravilhas, e suas produções naturais. É também o Dia da Vingança sobre as Civilizações que existem para fazer com que sua cidadania na Terra produza cataclismos gerados pela bomba da cobiça, pelo des-amor aos recursos do Planeta e por causa de sua tirania sobre as demais criaturas—humanas ou não! Isto porque como a Cruz vem antes da Criação e como as criaturas gemem esperando o Dia da Redenção, então, pode-se dizer que toda a criação sente dores e agonias latentes pela Graça que pode redimir a toda criatura *

A GLÓRIA DE DEUS

A glória de Deus

Osmar Ludovico

Um milagre para a festa não acabar antes da hora. O vinho, símbolo da alegria e da festa, terminara. Jesus faz o milagre de transformar a água em vinho, e assim a festa e a alegria continuam.

Festa e alegria que, muitas vezes, não temos em nossas vidas. Começamos bem e terminamos mal nossas iniciativas. Pode acontecer com o casamento. Acabam a paixão e a festa, restam a desconfiança, a preocupação, a argumentação e as justificativas.

No milagre da multiplicação do vinho, nas bodas de Caná, a Escritura diz que Jesus manifestou a sua glória. Com este, deu Jesus princípio a seus sinais, em Caná da Galiléia; manifestou a sua glória e seus discípulos creram nEle (Jo 2.11).

Glória, no hebraico, é kadosh, que quer dizer peso, dignidade, esplendor. No grego é doxa, que quer dizer reputação, uma palavra que era também usada secularmente.

No Antigo Testamento, a glória de Deus era percebida pelos homens no contexto de manifestações grandiosas e sobrenaturais, como, por exemplo, a abertura do Mar Vermelho, o fogo no Sinai, a visita dos anjos a Abraão e a escada de Jacó.

Como entender a manifestação da glória de Deus nas bodas de Caná? A glória de Deus misteriosamente escondida neste acontecimento trivial: uma festa de casamento? O esplendor divino, a irradiação da dignidade de Deus, o peso de sua reputação, a riqueza de sua luz que invade a história dos homens estava naquela festa.

Como é possível que a esplendorosa glória de Deus estivesse completamente presente no milagre generoso de prover mais vinho para que a festa não acabasse antes da hora? Este é o presente de Jesus Cristo para os pais dos noivos, para os noivos, para os convidados: uma superabundância de vinho para os muitos brindes e a alegria de todos.

Assim ora Jesus Cristo, na véspera de sua crucificação: “Pai é chegada a hora, glorifica a teu filho, para que o Filho glorifique a ti” (Jo 17.14).

A glória de Deus se manifestou de forma plena em Caná e no Calvário.

A glória de Deus, portanto, ouso afirmar, é que os homens sejam felizes, façam festa, se confraternizem e se alegrem. A glória de Deus é atenuar e reverter os efeitos da queda, do mal, do pecado, da enfermidade, da tristeza e da morte que afligem a humanidade.

A glória de Deus é a salvação e a alegria dos homens. Deus é aquele que se doa amorosamente para nos salvar e nos alegrar. Aquele que toma sobre si nossos pecados, nossas enfermidades e nossas tristezas. Ele vai até o fim no seu desejo de nos amar, amar cada um de nós.

É por isso que em Caná e no Calvário penetramos no mistério da glória de Deus. Sua glória se manifesta de forma plena, irrefutável, pois o Filho Jesus Cristo, o Deus encarnado, se alegra com os homens em suas festas, mas também assume sobre si a tragédia humana por amor da humanidade. Ele nos salva e enche nosso coração de paz e de alegria.

Só mesmo através do Espírito Santo podemos contemplar a glória de Deus na alegria de Caná e na humilhação do Calvário. São manifestações sublimes do amor de Deus, que expressam aquilo que Ele é no mais íntimo de sua natureza.

Esta doação sem limites de Deus é melhor compreendida em Caná e no Calvário do que no Mar Vermelho e no Sinai. Ou seja, percebemos com mais nitidez a glória de Deus no seu desejo de que os homens sejam salvos, sejam felizes.

A glória de Deus é seu amor irretribuível, imerecido, incondicional, que se manifesta quando Ele se doa inteiramente a nosso favor, quando Ele faz o milagre para a festa não acabar antes da hora, quando Ele morre na cruz para nos perdoar e nos salvar.

A glória de Deus consiste em amar a humanidade perdida. Na prontidão do Filho para perdoar e salvar, e penetrar no nosso coração através do Espírito Santo, e nos encher de paz e alegria.

Glória para homens significa fama, poder, riqueza. A glória de Deus é o oposto; significa esvaziamento, doação, o desejo do bem-estar do outro.

Manifestamos a glória de Deus quando nos abrimos ao milagre de Caná e ao sacrifício da cruz, e assim nos tornamos pessoas alegres, esperançosas, generosas, perdoadoras e amorosas.